natureza espirital e natureza humana

Nos círculos da New Age fala-se muito do amor incondicional. Muitos mestres exortam os seus seguidores a praticar o perdão, a não julgar, a amar total e incondicionalmente - e muitos discípulos sinceros esforçam-se por seguir esses ensinamentos. Mas essas ideias correctas são muitas vezes apresentadas de maneira ambígua ou errónea. Claro que julgar os outros é desagradável, discriminativo, incómodo para todos os envolvidos. O perdão é uma força poderosa e regeneradora tanto para quem o dá como para quem o recebe. E não há maior bênção do que dar e/ou receber um amor incondicional. Mas abundam as confusões e equívocos acerca desses processos, e grande parte desses ensinamentos são dados na perspectiva da transcendência e não da transformação.
Também aqui devemos saber distinguir entre a nossa essência espiritual e a nossa personalidade humana. Como seres espirituais, estamos sempre em sintonia com o amor universal, que é sempre incondicional e acrítico. Mas o objectivo da nossa personalidade humana é aprender a sobreviver no mundo físico e responder às nossas emoções. Ao nível da personalidade, temos como preocupação fundamental cuidar e proteger a criança vulnerável que há em nós; os nossos sentimentos de amor estão estreitamente ligados à nossa necessidade de segurança, confiança e intimidade. A nossa personalidade tem fortes mecanismos de defesa capazes de bloquear os nossos sentimentos de amor quando nos sentimos ameaçados.
Em vez de negar ou tentar suprimir esses sentimentos e reacções, devemos respeitar e apreciar a função da nossa personalidade humana, lembrando-nos que o amor incondicional não faz parte da sua natureza. É um passo importante da cura compreender isso, para aprendermos a respeitar igualmente a nossa natureza espiritual e a humana.

(Shakti Gawain in O caminho da transformação - Imagem: http://www.art-photo )